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sábado, março 18, 2006

"Fwr" 

O passado encerra em si algo que de inalienável, e é parte do que somos.
Contudo, viver no/do passado não é "solução" e, em excesso, tolda-nos o óbvio...
É evidente que o Passado é mais seguro, mais que não seja por já sabermos como as coisas acabam;
O Passado é também mais fácil porque o mau não parece tão mau à distância do tempo, e o bom é eterno...
Mas não tenham medo de ser felizes... e isso só o futuro vos/nos pode oferecer...
Usando uma linguagem tradicional, que não menos verdadeira, apesar de tudo... "prá frente é que é caminho"...
Dentro deste espírito, aqui fica um poema de um grande poeta, aquele momento denominado... "fim da linha"...
"Adeus"

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!

e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

Eugénio de Andrade

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