BlogueAberto

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

Eugénio de Andrade

Com frequência andamos...
Infelizmente, nos dias que correm, grande parte passamo-los a "correr"...
Por vezes, e em casos excepcionais, temos o privilégio de voar...
Sábado que se aproxima, parto para terras de sua magestade (perdoem a letra minúscula), e quem me conhece sabe que aviões não é comigo...(não, não é nenhuma versão "rasca" do B.A.)
Ai, se antes pudesse "voar" novamente como o fiz no Sábado passado...
É capaz de ter sido menos seguro, mas o destino foi/é ainda mais apetecível...
Porto, aqui vou eu... de novo (sim, o vôo parte de lá... parece que é moda...)
Tenho dito!